sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

MEUS DISCÍPULOS SERÃO CONHECIDOS POR MUITO SE AMAREM


Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem. Esta frase de Jesus encerra o objetivo final de nossa prática como cristãos. Jesus convidou os seus seguidores a cultivarem o sentimento de caridade, isto é, de amor ao próximo; não os convidou a nenhuma prática exterior, judaica ou não. Mesmo no caso do batismo, o Novo Testamento conta que os seus discípulos batizavam, mas o próprio Jesus não o fazia. Com judeu, comemorou a páscoa com seus discípulos e aproveitou para dar o ensinamento contido na cerimônia do lava-pés.
No livro “Paulo e Estevão” de Francisco Cândido Xavier, Emmanuel conta que Paulo de Tarso, vendo que a Igreja do Caminho estava sendo submetida a inúmeras práticas judaicas, com o que ele não concordava, resolveu difundir a ideia cristã entre os gentios. Naquele tempo, Paulo já entendia que Jesus Cristo e sua doutrina estavam muito além das práticas exteriores.
Os bispos de Roma se denominaram chefes das outras igrejas e organizaram a Igreja Católica Apostólica Romana que absorveu cultos e práticas de inúmeras religiões, tornando-se poderosa econômica e politicamente. No livro “Emmanuel” (capítulo 3), de Francisco Cândido Xavier o autor espiritual mostra a “inexistência do selo divino nas instituições católicas”. Como exemplo do que nos disse Emmanuel, no 2º Concílio de Constantinopla em 553 foi abolida a ideia da reencarnação ensinada por Jesus; a ideia da reencarnação foi substituída pela da ressurreição.
Certamente as práticas exteriores da Igreja católica foram úteis em seu tempo, mas aos espíritas, Kardec recomenda a postura de Jesus: união fraterna pelo sentimento de caridade, sem admitir ritual, dogma, imagem ou qualquer procedimento estranho. Na “Revista Espírita”, ano IV, volume 12 de 1861, Allan Kardec, considerando o movimento espírita que se iniciava, dá as diretrizes para os grupos espíritas: 
“Sendo admitida em princípio, a formação dos grupos, várias questões importantes restam a examinar. A primeira de todas é a uniformidade na Doutrina. Essa uniformidade não seria melhor garantia para uma Sociedade compacta, uma vez que os dissidentes teriam sempre a facilidade de se retirar e manterem-se afastados. Quer a Sociedade seja una ou fracionada, a uniformidade será a consequência natural da unidade de base que os grupos adotarão. Ela será completa em todos aqueles que seguirão a linha traçada pelos O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns: um contendo os princípios da filosofia e da ciência; o outro, as regras da parte experimental e prática. Essas obras estão escritas com bastante clareza para não darem lugar a interpretações divergentes, condição essencial de toda doutrina nova.”
O movimento espírita crescia na França e em outros países levando Kardec às seguintes considerações na “Revista Espírita” ano XI, volume 12 de 1868:
“Por que, pois, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Pela razão de que não há senão uma palavra para expressar duas ideias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; que ela desperta exclusivamente uma ideia de forma, e que o Espiritismo não a tem. Se o Espiritismo se dissesse religião, o público não veria nele senão uma nova edição, uma variante, querendo-se, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com um cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo, e dos abusos contra os quais a opinião frequentemente é levantada.
O Espiritismo, não tendo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não se poderia, nem deveria se ornar de um título sobre o valor do qual, inevitavelmente, seria desprezado; eis porque ele se diz simplesmente: doutrina filosófica e moral.
As reuniões espíritas podem, pois, ser mantidas religiosamente, quer dizer, com recolhimento e o respeito que comporta a natureza séria dos assuntos dos quais ela se ocupa; pode-se mesmo ali dizer, se for possível, as preces que, em lugar de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem ser por isto que se entendam por assembleias religiosas. Que não se creia que esteja aí um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não vem senão da falta de uma palavra para cada ideia.
Qual é, pois, o laço que deve existir entre os Espíritas? Eles não são unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória; qual é o sentimento no qual devem se confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para todos, de outro modo dito: o amor do próximo que compreende os vivos e os mortos, uma vez que sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.
A caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes; é porque pode se dizer que não há verdadeiro Espírita sem caridade.”
As diretrizes do Codificador são muito claras. O Espiritismo não tem práticas religiosas, a não ser a caridade. Não tem rituais, nem dogmas, nem chefes encarnados. É o libertador de nossas consciências por que é a Religião na qual Deus é adorado em espírito e verdade, sem necessidade de atos exteriores.
No entanto, os homens são imperfeitos e sentem necessidade de mostrar a própria personalidade. Por isso, o espírito de Emmanuel, em “O Consolador”, de Francisco Cândido Xavier precisou nos esclarecer a respeito de extravagâncias doutrinárias: 
“366 –Como deverá agir o espírita sincero, quando encontre perante certas extravagâncias doutrinárias?
-À luz da fraternidade pura, jamais neguemos o concurso da boa palavra e da contribuição direta, sempre que oportuno, em benefício do esclarecimento de todos, guardando, todavia, o cuidado de nunca transigir com os verdadeiros princípios evangélicos, sem, contudo ferir os sentimentos das pessoas. E se as pessoas perseverarem na incompreensão, cuide cada trabalhador da sua tarefa, porque Jesus afirmou que o trigo cresceria ao lado do joio, em sua seara santa, mas Ele, o Cultivador da Verdade Divina, saberia escolher o bom grão na época da ceifa.”
Também o espírito de André Luiz em “Opinião Espírita” de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira escreveu sobre práticas estranhas, finalizando com os dizeres:
“Em Doutrina Espírita, pois, seja compreensível afirmar que é certo respeitar tudo e beneficiar sem complicar a cada um de nossos irmãos, onde quer que se encontrem, mas não podemos aceitar tudo e nem abraçar tudo, a fim de podermos estar certos.”
Temos em nossa vivência o exemplo da prática verdadeira que Jesus espera de todos nós um dia: A Casa da Prece de Chico Xavier. De propriedade do próprio médium, é um modelo: simples, sem adornos, sem imagens, recebendo a todos com amor fraternal, para consolo e esclarecimento. Chico Xavier, apesar de todas as pressões e perseguições, tanto de encarnados como de desencarnados, soube manter-se como Kardec propôs: unidade doutrinária em torno das obras básicas do Espiritismo, ligado a todos apenas pelo sentimento de caridade e de amor ao próximo.
Que todas as nossas casas espíritas possam seguir seu magnífico e inesquecível exemplo de apenas “muito se amarem” sem nenhuma prática estranha ou extravagância doutrinária.